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Livro “Ansiedade – Como Enfrentar o Mal do Século” – Augusto Cury – emPDF

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Baixe agora “Ansiedade – Como Enfrentar o Mal do Século”, uma obra de Augusto Cury que oferece uma análise profunda sobre a ansiedade, um dos maiores desafios da sociedade contemporânea.

No livro, Cury compartilha estratégias e métodos para enfrentar o mal do século, com base na psicologia e na inteligência emocional, oferecendo ferramentas para controlar a mente e conquistar qualidade de vida. O livro é essencial para quem busca compreender melhor a ansiedade e aprender a administrar suas emoções em tempos de pressão, proporcionando um guia prático e reflexivo para a saúde mental. Disponível em PDF, com download simples, rápido e seguro.

Baixar o livro “Ansiedade – Como Enfrentar o Mal do Século” – Augusto Cury – Em formato PDF

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Dedico este livro a alguém especial Desejo que você seja um grande sonhador E que, entre seus sonhos, sonhe em ter Um caso de amor com sua qualidade de vida. Caso contrário, terá uma dívida enorme com Sua saúde emocional e com uma mente livre. Saiba que os melhores seres humanos já traíram: Traíram seus finais de semanas, seu sono, seu descanso. Traíram o tempo com as pessoas que mais amam. Desacelere! Que neste livro você aprenda a Gerenciar seus pensamentos e proteger a sua emoção. Pois, por mais forte que seja, você é um simples mortal. Obrigado por existir. Agradecimentos Felizmente, as mulheres estão dominando o mundo. Em minha opinião, elas são mais inteligentes, altruístas e solidárias que os homens. Agradeço às mulheres da minha vida, minha esposa, Suleima, e minhas queridas filhas, Cam- ila, Carolina e Claudia. Com elas, aprendo que todas as escol- has implicam perdas. Quem não estiver preparado para per- der o trivial não é digno de conquistar o essencial. E, se for- mos amigos da sabedoria, descobriremos que o essencial são as pessoas que amamos... Prefácio Vivemos numa sociedade urgente, rápida e ansiosa. Nunca as pessoas tiveram uma mente tão agitada e estressada. Paciên- cia e tolerância a contrariedades estão se tornando artigos de luxo. Quando o computador demora para iniciar, não poucos se irritam. Quando as pessoas não se dedicam a atividades in- teressantes, elas facilmente se angustiam. Raros são os que contemplam as flores nas praças ou se sentam para dialogar nas suas varandas ou sacadas. Estamos na era da indústria do entretenimento e, paradoxalmente, na era do tédio. É muito triste descobrir que grande parte dos seres humanos de todas as nações não sabe ficar só, se interiorizar, refletir sobre as nuances da existência, se curtir, ter um autodiálogo. Essas pessoas conhecem muitos nas redes sociais, mas raramente conhecem alguém a fundo e, o que é pior, raramente con- hecem a si mesmas. Este livro fala do mal do século. Muitos pensam que o mal do século é a depressão, mas aqui apresento outro mal, talvez mais grave, mas menos perceptível: a ansiedade decorrente da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Pensar é bom, pensar com lucidez é ótimo, porém pensar demais é uma bomba contra a saúde psíquica, o prazer de viver e a criativid- ade. Não são apenas as drogas psicotrópicas que viciam, mas também o excesso de informação, de trabalho intelectual, de atividades, de preocupação, de uso de celular. Você vive esses excessos? Todos eles levam a mente humana ao mais pen- etrante de todos os vícios: o vício em pensar. Muitos entre os melhores profissionais padecem desse mal; são ótimos para sua empresa, mas carrascos de si mesmos. Desacelerar nossos pensamentos e aprender a gerir nossa mente são tarefas fundamentais. O conteúdo deste livro deriva da Teoria da Inteligência Multifocal, uma das poucas teorias mundiais que estudam o complexo processo de construção de pensamentos, de form- ação do Eu como gestor psíquico, os papéis da memória e a formação de pensadores. O livro não é, portanto, uma obra de autoajuda com soluções mágicas, mas uma obra de aplicação psicológica. Ensino aos meus alunos de mestrado e doutorado em psicologia, coaching e ciências da educação muitas das teses expostas aqui. Entretanto, procurei escrevê-las numa linguagem simples, usando muitos exemplos e metáforas, para tornar o livro acessível não apenas para os mais diversos profissionais, professores e pais, mas também para os jovens, porque estes são igualmente vítimas da SPA. Sem perceber, destruímos a saúde emocional da juventude no mundo todo. Espero que você faça um mergulho em camadas mais pro- fundas da sua mente e aplique as ferramentas aqui propostas. O dinheiro compra bajuladores, mas não amigos; compra a cama, mas não o sono; compra pacotes turísticos, mas não a 9/151 alegria; compra todo e qualquer tipo de produto, mas não uma mente livre; compra seguros, mas não o seguro emocion- al. Numa existência brevíssima e complexa como a nossa, conquistar uma mente livre e ter seguro emocional faz toda a diferença... Dr. Augusto Cury, Ph.D. 10/151 1 O mal do século: Depressão ou Síndrome do Pensamento Acelerado? Qual é o mal do século? A depressão? Não há dúvida de que a depressão abarca um número assombroso de pessoas na so- ciedade moderna. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,4 bilhão de pessoas, cedo ou tarde, desen- volverão o último estágio da dor humana, o que corresponde a 20% da população do planeta. Mas, como veremos, a Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA) provavelmente at- inge mais de 80% dos indivíduos de todas as idades, de alun- os a professores, de intelectuais a iletrados, de médicos a pacientes. Sem perceber, a sociedade moderna – consumista, rápida e estressante – alterou algo que deveria ser inviolável, o ritmo de construção de pensamentos, gerando consequências ser- iíssimas para a saúde emocional, o prazer de viver, o desenvolvimento da inteligência, a criatividade e a sustentab- ilidade das relações sociais. Adoecemos coletivamente. Este é um grito de alerta. Recentemente, durante minhas conferências para mais de 8 mil educadores em dois congressos, um nacional e outro in- ternacional, apliquei um teste rápido sobre os sintomas bási- cos da SPA. Pedi aos participantes que fossem sinceros e apontassem os sintomas que sentiam, porque quem não é honesto consigo mesmo, quem não tem coragem de se mapear, tem grande chance de ficar intocável, de levar seus conflitos para o túmulo. Antes, brinquei dizendo para sorrirem, pois o caso era de chorar... O resultado me deixou atônito, já que quase todos se achavam profundamente ansiosos e com sintomas psíquicos e psicossomáticos decorrentes dessa síndrome. Eles sorriam e relaxavam ao perceber que não estavam sós. Eram vítimas do que considero ser o verdadeiro mal do século. O que fizemos com os filhos da humanidade? Após minha última conferência antes de pegar o voo e retorn- ar a São Paulo, um dos patrocinadores do evento, proprietário de uma grande escola de ensino fundamental, médio e uni- versitário, com milhares de alunos, pediu-me insistentemente para visitar a instituição. Eu tinha vinte minutos. Vendo seu enorme interesse, atendi ao pedido. Como não queria só fazer uma visita formal, 12/151 mas dar uma contribuição, solicitei que escolhesse algumas classes de alunos, para os quais eu falaria brevemente sobre certas funções complexas da inteligência, sobre o Eu como gestor da psique e sobre como a Síndrome do Pensamento Acelerado compromete o desempenho global do intelecto. Rapidamente, os professores e coordenadores se organizaram e resolveram indicar as classes do terceiro ano do ensino mé- dio. Dou aulas de pós-graduação e para profissionais de di- versas áreas e raramente tenho a oportunidade de estar com alunos tão jovens. Comentei com eles sobre as janelas killer ou traumáticas – sobre as quais tratarei mais adiante –, que contêm ciúme, timidez, fobias, insegurança e sentimento de incapacidade, e cujo volume de tensão pode bloquear milhares de outras janelas, impedindo o Eu de acessar dados e dar respostas in- teligentes nas provas escolares e nas provas da vida. Disse que, ao longo da história, muitos gênios foram tratados como “deficientes mentais” por professores que nunca estudaram a teoria das janelas da memória e as armadilhas das zonas killer nos bastidores da mente. Ao falar para aquela plateia, sabia que, em todo o mundo, os jovens raramente viviam o sonho de Platão (o prazer de aprender), de Paulo Freire (ter autonomia, opinião própria), de Jean-Paul Sartre (ser dono do próprio destino), de Freud (um ego que vive o princípio do prazer com maturidade), de Viktor Frankl (um ser humano em busca do sentido existen- cial) e o meu sonho (o desenvolvimento de um Eu maduro, capaz de proteger a emoção, gerenciar pensamentos e trabal- har outras funções complexas da inteligência para aprender a ser autor da própria história). 13/151 Os professores reclamam que os alunos estão cada vez mais agitados, ansiosos e alienados. Mas toda mente é um cofre; não existem mentes impenetráveis, e sim chaves erra- das. Usei a chave correta, toquei o território da emoção daqueles alunos e os estimulei a viajar para dentro de si mes- mos. Não se ouvia uma mosca enquanto eu falava. Após minha breve exposição, indaguei-lhes sobre os sinto- mas da SPA que porventura vivenciavam. A grande maioria levantou a mão afirmando sentir dores de cabeça e muscu- lares. Foi surpreendente. Quase todos também acenaram pos- itivamente quando perguntei se acordavam cansados, sentiam-se irritadiços e intolerantes a contrariedades, sofriam por antecipação, tinham déficit de concentração e de memória. A proprietária da escola, muito sensível, bem como os professores presentes, ficaram estarrecidos. Não imaginavam que a qualidade de vida dos seus alunos estava na lama. Mui- tos eram ricos, mas viviam como miseráveis nos solos da sua psique. Por fim, fiz a última pergunta. Dessa vez fui eu quem ficou com a voz embargada e os olhos lacrimejantes. Indaguei quem tinha algum tipo de transtorno do sono, e, mais uma vez, muitos levantaram a mão. Esses jovens estavam na plen- itude da vida, porém viviam entrincheirados, guerreando no único lugar onde temos de fazer uma trégua absoluta: a cama. O sono é vital para uma mente equilibrada, produtiva e saudável. Eu parei, olhei para os professores e perguntei: “O que es- tamos fazendo com os filhos da humanidade?”. Não me cont- ive. Afirmei que, apesar de os professores serem os 14/151 profissionais mais importantes da sociedade, o sistema edu- cacional clássico está doente, formando pessoas doentes para uma sociedade estressante, pois leva os alunos, da pré-escola à pós-graduação, a conhecer milhões de dados sobre o mundo em que estamos, mas quase nada sobre o mundo que somos, o planeta psíquico. A educação clássica muito raramente ensina aos estudantes as ferramentas básicas para que aprendam, desde a mais tenra infância, a habilidade de filtrar estímulos es- tressantes, proteger a emoção, gerenciar seus pensamentos, pensar antes de reagir, ser resiliente e, desse modo, alicerçar o Eu como gestor psíquico e aliviar, pelo menos um pouco, os graves sintomas da Síndrome do Pensamento Acelerado. Muitas escolas nas Américas, na Europa, na África e na Ásia podem formar técnicos com maestria, mas têm um débito enorme na formação de pensadores capazes de desenvolver mentes livres e emoções saudáveis. Infelizmente, em todo o mundo, neurologistas, psiquiat- ras e psicopedagogos estão fazendo diagnósticos errados. Ao verem um jovem desconcentrado, irritadiço, inquieto, com baixo limiar para a frustração, diagnosticam como hiper- atividade ou transtorno de déficit de atenção, em vez de SPA. Os sintomas são semelhantes, mas as causas e a abordagem são distintas. Esse assunto será comentado adiante. Um Eu maduro ou imaturo 15/151 Vivemos na idade da pedra em relação aos papéis do Eu como administrador da psique. De quanto em quanto tempo fazemos a higiene corpórea, tomamos banho? A cada 24 hor- as? E a higiene bucal? A cada quatro ou seis horas? E a higiene mental? Por exemplo, quanto tempo temos para in- tervir quando somos invadidos por um pensamento perturb- ador, uma ideia autopunitiva, um estado fóbico? No máximo, cinco segundos. Usando a metáfora do teatro, o nosso Eu, que representa a nossa capacidade de escolha, deve sair da plateia, entrar no palco da mente e fazer a higiene de modo rápido e silencioso enquanto está se processando o registro na memória da ex- periência angustiante. Como? Impugnando, discordando, confrontando, como um advogado de defesa faz num fórum para proteger o réu. Mas nosso Eu é lento demais. Não é edu- cado para administrar a psique. Ele grita no mundo de fora e se cala no território psíquico. Faz, normalmente, o contrário do que deveria. A grande maioria das pessoas dirige carro, mas não aprendeu a dirigir as próprias emoções, reações e pensamen- tos. Vivemos numa sociedade superficial e estressante, que todos os dias nos vende produtos e serviços, porém não nos ensina a desenvolver um Eu “gerente”, maduro, inteligente, cônscio dos seus papéis fundamentais. Como está seu Eu? O cárcere psíquico é capitaneado por doenças psicos- somáticas, depressão, discriminação, violência escolar, di- ficuldade de transferência do capital das experiências, Síndrome do Circuito Fechado da Memória, Síndrome do Pensamento Acelerado, culto a celebridades e padrão tirânico 16/151 de beleza. Tais cárceres são evidências da crise do geren- ciamento do Eu. Com frequência, comento com meus alunos pós-graduan- dos em psicanálise e psicologia multifocal que uma das tare- fas mais nobres e relevantes do Eu é mapear, esquadrinhar nossos fantasmas e reeditar nossas janelas traumáticas. De outro modo, podemos fazer parte do rol dos que falam sobre maturidade mas são verdadeiros meninos no território da emoção, pois não sabem ser minimamente criticados, con- trariados e, além disso, têm a necessidade neurótica de poder e de que o mundo gravite em sua órbita. Certa vez, perguntei a executivos das cinquenta empresas psicologicamente mais saudáveis do país: “Quem tem algum tipo de seguro?”. Todos responderam que tinham. Em seguida, indaguei: “Quem tem seguro emocional?”. Ninguém arriscou levantar a mão. Foram sinceros. Como podemos falar de empresas saudáveis sem mencionar os mecanismos bási- cos para proteger a emoção? Só fazemos seguro daquilo que nos é caro. Mas, infelizmente, a mais importante propriedade tem tido um valor irrelevante. Em geral, esses profissionais são ótimos para a empresa, mas carrascos de si mesmos. Acertam no trivial, mas erram muito no essencial. E eu? E você? Ainda que possamos dizer que a mente humana é a mais complexa de todas as “empres- as”, a única que não pode falir, infelizmente é a que vai com maior facilidade à bancarrota pelos descuidos inadmissíveis com que a tratamos. Ela não pode ser terra de ninguém e ficar vulnerável a todo estímulo estressante. Sua emoção tem seguro? 17/151 2 Somos livres em nossa mente? A tese de Sartre: condenados a ser livres Somos livres para pensar? Pensamos o que queremos e quando queremos? Espere, não se apresse em responder. Pense o pensamento, pense no que você pensa e em como pensa. Alguém pode questionar: “Sou livre em minha mente, meus pensamentos submetem a minha vontade”. Será? O filósofo francês Jean-Paul Sartre defendeu uma das teses mais inteligentes da filosofia: o ser humano está con- denado a ser livre. Sartre estava correto ou foi ingenuamente romântico ao defender essa tese? Somos livres dentro de nós mesmos? Se olharmos para o comportamento externo, não há dúvida de que Sartre estava correto. Um presidiário pode ter seu corpo confinado atrás das grades, mas sua mente é livre para pensar, fantasiar, sonhar, imaginar. Se o seu Eu não for treinado para refletir sobre seus erros, a punição não será em hipótese alguma pedagógica. Pelo contrário, os fenômenos que constroem cadeias de pensamentos farão uma leitura multifocal da memória ao longo de dias, meses e anos, con- struindo imagens mentais sobre fuga, túneis, abreviamento da pena; enfim, tudo para escapar de um cárcere mais grave que o cárcere físico: o cárcere da angústia, do tédio, da an- siedade asfixiante. Quem construiu as prisões ao longo da história não estudou o processo de construção de pensamen- tos, não entendeu que a mente jamais pode ser aprisionada. Por que os ditadores, por mais brutais que sejam, por mais que controlem seu povo com mão de ferro, caem? Porque ninguém pode controlar a movimentação do Eu e seus anseios pela liberdade. Um bebê terá vontade de sair dos braços da mãe para ex- plorar o ambiente. Um adolescente se arriscará a fazer novos amigos, ainda que seja tímido. Uma pessoa marcada por uma fobia desviará do objeto fóbico; enfim, irá ao encontro da sua liberdade. Por esse ângulo, Sartre estava corretíssimo: o ser humano está condenado a ser livre. A sua tese alicerça, inclusive, os direitos e deveres civis dos cidadãos nas sociedades democráticas. Nelas, temos a liberdade de expressar nossos pensamentos, de ir e vir. Mas se, por um lado, ansiamos desesperadamente ser livres, por outro, ao observarmos atentamente o processo de construção de pensamentos e as sofisticadas armadilhas que ele encerra, veremos que a tese de Sartre é ingênua e romântica. Infeliz- mente, não somos livres como gostaríamos de ser no âmago 19/151 do intelecto. Aliás, os piores cárceres, as piores masmorras, as mais apertadas algemas podem estar dentro de nós. Vejamos. O Eu é refém de uma base de dados Nós construímos pensamentos a partir do corpo de inform- ações arquivado em nossa memória. Todas as ideias, a cri- atividade e a imaginação nascem do casamento entre um es- tímulo e a leitura da memória, que opera em milésimos de se- gundo. O Eu não tem consciência dessa leitura e organização de dados em alta velocidade que ocorre nos bastidores da mente, somente do produto final encenado no palco, ou seja, dos pensamentos já elaborados. Um quadro, os personagens do cinema ou de um livro, por mais incomuns que sejam, foram gestados com base na leitura de elementos contidos na memória do seu autor. E a memória é um produto de nossa carga genética, do útero ma- terno, do ambiente social, do meio educacional e das relações do nosso Eu com a própria mente. Milhares de experiências que fazem parte do nosso banco de dados da primeira infância, como rejeições, perdas, con- trariedades, medos, foram produzidas sem que pudéssemos controlá-las, filtrá-las, rejeitá-las. Claro que hoje, como adul- tos, fazemos escolhas, tomamos atitudes, mas nossas escolhas são pautadas pela base de dados que já temos, e, portanto, nossa liberdade não é plena como Sartre pensava. Um homem, que talvez seja o maior educador da história, enxergava essa limitação de maneira clara e assombrosa. 20/151 Quando estava morrendo sobre o madeiro, há mais de 2 mil anos, disse algo surpreendente: “Pai, perdoa-os, pois eles não sabem o que fazem!”. Uma análise não religiosa, mas psicoló- gica e sociológica, demonstra que a afirmação carrega um al- truísmo sem precedente. Mas, ao mesmo tempo, parece in- aceitável sua atitude de proteger os carrascos. Os soldados romanos sabiam o que faziam, cumpriam a peça condenatória de Pilatos. Entretanto, para o mestre dos mestres, os pensamentos que eles construíam eram, por um lado, fruto da livre escolha e, por outro, reféns da base de da- dos da sua memória, da cultura tirânica do Império Romano. Cumpriam ordens, não eram completamente autônomos nem donos do próprio destino. Eram prisioneiros do seu passado, “escravos” de sua cultura. A cultura é fundamental para a identidade de um povo, mas, se ela nos impede de nos colocar no lugar do outro e pensar antes de reagir, torna-se escravizante. Para o mestre da Galileia, por detrás de uma pessoa que fere, há sempre uma pessoa ferida. Isso não resolvia o problema dos seus opositores, mas resolvia o problema dele. Protegia a sua mente. Seu Eu não carregava as loucuras e agressividades que não lhe pertenciam. Sua tolerância o aliviava, mesmo quando o mundo desabava sobre ele. O Eu pode ser dominado pelo fenômeno do autofluxo 21/151 Não deixamos de ser livres apenas porque somos reféns do nosso passado, da “liberdade circunscrita a uma história ex- istencial”. Mesmo dentro dessa base de dados, não temos plena liberdade de escolha, como Sartre pensava. Imagine que tenhamos milhões de “tijolos” em nossa memória, que advêm da carga genética, da relação com pais, irmãos, amigos, das experiências na escola, das informações dos livros, do processo de introspecção. Não há dúvida de que temos liberdade de escolha para utilizar esses tijolos e con- struir emoções e pensamentos ao bel-prazer do Eu, pensamentos que acusam, discursam, analisam, acolhem, criticam, aceitam, amam, odeiam. A não ser que alguém esteja em surto psicótico ou sob in- tenso efeito de uma droga, ou seja uma criança incapaz de ter consciência de seus atos, o exercício de escolher e utilizar os tijolos da memória está preservado. Mas, apesar da liberdade que o Eu tem de acessar e utilizar informações para construir cadeias de pensamentos sob sua responsabilidade, há fenô- menos inconscientes que constroem pensamentos e emoções sem sua autorização. Se esses fenômenos realmente existem, isso muda drasticamente nossa compreensão sobre quem somos, o Homo sapiens. Você entraria numa aeronave sabendo que há um ter- rorista a bordo que poderia dominar o piloto e fazer o avião despencar? Fiz essa pergunta para uma plateia de médicos. Claro, todos disseram que não. Em seguida, perguntei: “Quem gosta de sofrer, de se angustiar?”. Felizmente, não havia nenhum masoquista presente. E continuei: “Quem sofre por antecipação?”. Quase todos na plateia se manifestaram. Expliquei então que, se considerássemos a mente humana 22/151 como a mais complexa aeronave e o piloto, o Eu, a aeronave mental deles estaria em queda livre. Disse a eles que “se o Eu de vocês não é masoquista, se ninguém se detesta ou procura se mutilar, por que, então, sofrer por antecipação? Se não é o Eu que produz esses pensamentos perturbadores, quem os produz? A conclusão é que há um ‘terrorista’ a bordo, há um copiloto sabotando a aeronave mental”. Quem é esse copiloto? Eu o chamo de autofluxo. Mais adi- ante, vamos investigá-lo em detalhes, mas, previamente, afirmo que tal fenômeno inconsciente é de vital importância para o psiquismo humano, para a criatividade e para o prazer de viver, porém pode perder sua função saudável e passar a nos aterrorizar. Aliás, ele é o grande responsável por produzir a Síndrome do Pensamento Acelerado. Os médicos começaram, enfim, a entender que a tese de Jean-Paul Sartre não se sustentava. O nosso Eu é livre para pensar, para organizar os dados da sua memória, mas, ao mesmo tempo, há fenômenos inconscientes, que até então não tinham sido estudados por outros teóricos, que produzem pensamentos sem a autorização do próprio Eu e que podem sabotá-lo, escravizá-lo, encarcerá-lo. Não podemos falar que somos condenados a ser livres. Não estamos sós na aeronave mental... Podemos e devemos ser educados para ser autores da nossa história, mas essa liberdade é conquistada e tem seus limites. A história da hu- manidade, com suas inúmeras injustiças e atrocidades, é um exemplo claro disso. 23/151 O fenômeno RAM domina a memória e o Eu O terceiro elemento que questiona a tese de Sartre está ligado às limitações do Eu quanto ao arquivamento da memória. Nos computadores, somos deuses, registramos o que quere- mos e quando queremos, mas na memória humana isso é im- possível. O registro de tudo o que contatamos é automático e involuntário, produzido por um fenômeno inconsciente cha- mado Registro Automático da Memória (RAM). Não apenas o que o nosso Eu deseja será arquivado, mas também o que ele odeia e despreza. Tudo o que mais detest- amos ou rejeitamos será registrado com maior poder, form- ando janelas traumáticas, que denomino killer. Se você de- testa alguém, tenha certeza de que ele dormirá com você e es- tragará seu sono. Portanto, se o Eu, que representa a capacid- ade de escolha, não tem liberdade para evitar o registro dos nossos pensamentos perturbadores e dos estímulos estress- antes que nos abarcam, como podemos dizer que o ser hu- mano está condenado a ser livre? Estudar e compreender esses fenômenos inconscientes não apenas nos deixará atônitos, mas também nos levará a uma nova compreensão sobre as ciências da educação, a psicologia, a psiquiatria, a sociologia e as relações sociopolíticas. O processo de construção de pensamentos e todas as suas implicações psicológicas e sociológicas não foram estudados sistematicamente por brilhantes pensadores como Freud, Jung, Roger, Skinner, Piaget, Vygotsky, Paulo Freire, 24/151 Nietzsche, Jean-Paul Sartre, Hegel, Kant, Descartes, entre outros. Os grandes teóricos da psicologia e da filosofia usaram o pensamento pronto para produzir, com brilhantismo, conhe- cimento sobre o processo de formação da personalidade, o processo de aprendizado, a ética, as relações sociopolíticas, mas pouco investigaram aquele que pode ser considerado a última fronteira da ciência: o próprio pensamento. Ao longo de mais de três décadas, estudei exaustivamente essa área e desenvolvi a Teoria da Inteligência Multifocal (TIM). Pensei dia e noite, ano após ano, analisando e escre- vendo sobre a natureza, os tipos, os limites e o processo de construção de pensamentos. Essa trajetória não alavancou meu orgulho; ao contrário, colocou-me em contato com minhas mazelas e minha pequenez, pois me fez perceber, em mais de 20 mil sessões de psicoterapia e consultas psiquiátricas, que todos os meus pa- cientes eram tão complexos como o mais culto e racional dos seres humanos. Estudar a dinâmica, a construção e a movi- mentação dos pensamentos me deixou plenamente convicto de que cada paciente que tratei, por mais fragmentada que es- tivesse sua personalidade, tinha a mesma dignidade que eu. Temos o costume de nos classificar em negros e brancos, ricos e miseráveis, celebridades e anônimos, intelectuais e ile- trados, reis e súditos, porque pisamos na superfície do plan- eta psíquico, porque conhecemos no máximo a antessala dos fenômenos que nos tecem como Homo sapiens. Somos uma espécie doente, que pouco honrou a arte de pensar. O fato de o mais complexo de todos os fenômenos do in- telecto, o pensamento, ter sido muito pouco investigado 25/151 trouxe consequências seriíssimas para o desenvolvimento da nossa espécie. Pensar o pensamento sistematicamente nos leva a romper o cárcere de nossas verdades e abre um uni- verso de possibilidades para compreender quem somos. E, também, para compreender que editar a construção do pensamento numa frequência altíssima leva ao mal do século (SPA), a um desgaste cerebral sem precedentes. O erro de Einstein e outras consequências Por não termos estudado o processo de construção de pensamentos, seus tipos e sua natureza, não desenvolvemos ferramentas para o Eu ser um gestor psíquico, o que gerou al- guns paradoxos angustiantes. Vejamos. Estamos no apogeu da medicina e da psiquiatria, mas nunca estivemos tão doentes. Estudo recente do Instituto de Pesquisa Social da Univer- sidade de Michigan aponta que, ao longo da vida, uma em cada duas pessoas deve desenvolver um transtorno psiquiátrico, ou seja, mais de 3 bilhões de pessoas. Estamos no apogeu da indústria do lazer, mas nunca houve uma ger- ação tão triste e depressiva como a nossa. Estamos na era do conhecimento, da democratização da informação, mas nunca produzimos tantos repetidores de informações, em vez de pensadores. E os paradoxos não param por aí. Por não termos investi- gado o fenômeno fundamental que nos torna seres pensantes, vivenciamos ainda hoje erros grosseiros e gravíssimos na 26/151 sustentabilidade das relações humanas, inclusive na inserção social. Qual a diferença entre uma pessoa em surto psicótico e um intelectual? Havia diferenças entre o grande Einstein e o filho psicótico que ele internou num manicômio e nunca mais visit- ou? Havia algumas diferenças na organização do raciocínio, nos parâmetros da realidade, na profundidade das ideias, na formatação do imaginário, mas, nos bastidores da mente, eles eram exatamente os mesmos. O filho de Einstein podia construir pensamentos ilógicos e imagens mentais desconectadas da realidade, mas a atuação do Eu e dos fenômenos inconscientes que construíam esses pensamentos e imagens era exatamente a mesma que Ein- stein usou para produzir sua sofisticada teoria da relativid- ade. Resgatar um verbo em meio a bilhões de opções e utilizá- lo numa cadeia de pensamento, ainda que ilógica, equivale a atirar na Lua e acertar numa mosca. A leitura rapidíssima da memória e a utilização dos dados que financiavam os personagens bizarros e as ideias perse- cutórias do filho de Einstein, reitero, nem de longe eram menos complexas do que as de seu pai. Entretanto, o ambi- ente tétrico de um manicômio, as dificuldades de lidar com o raciocínio de seu filho sem parâmetros lógicos e o sentimento de impotência de Einstein levaram o homem que mais con- heceu as forças do universo físico a ser asfixiado pelas forças de um universo mais complexo, o psíquico. Quando estudamos o processo de construção de pensamentos, somos iluminados para entender que a loucura e a racionalidade são mais próximas uma da outra do que 27/151 imaginamos. Por isso, uma pessoa inteligente jamais discrim- ina ou diminui os outros.

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